O carnavalesco Ronaldo
Batista de Sales (Magão) concedeu entrevista ao repórter Paulo Júnior (Jornal
Correio do Seridó) e falou sobre os preparativos finais do Ala Ursa para o
Carnaval de rua de Caicó.
Magão disse que a parceria
com a Prefeitura de Caicó e os demais patrocinadores do bloco está ótima. “Esse
ano, apesar das dificuldades, será o melhor ano para o Ala Ursa, pois eu estou
tendo mais condições de sair e esperando chuva. Acho que vai chover, se Deus
quiser”, salientou.
Orquestra de frevo
Magão afirmou que a sua
orquestra está 90% pronta e que está dando os últimos reajustes, pois a hora é
de acertar com o repertório. “A gente não quer ficar com aquele paradeiro e
vamos tocar 3 horas seguidas, para evitar de parar a orquestra.
Estrutura de som
Magão confirmou que a sua
estrutura de som está melhor. Ele esperava testar a frevioca na sexta-feira,
mas não foi possível e agora a previsão é que seja na terça-feira, dia 22 de
janeiro.
Apoios
O carnavalesco Magão agradeceu
aos seus patrocinadores, entre eles, o SESC, SENAC, Sindicato do Comércio
Varejista de Caicó, o empresário Victor Cirne, entre outros. Com a ajuda das
entidades do comércio e dos empresários, o Ala Ursa reúne as condições de sair
mais uma vez no carnaval de rua.
Ilha de Sant’Ana
Magão apoiou o novo esquema
do carnaval de Caicó, sem a estrutura de bandas fixas nos palcos da Ilha, mas
ressaltou que não tinha outra saída, em virtude das dificuldades enfrentadas
pela estiagem.
“Eu acho que para mim será
uma alegria, pois pela primeira vez, eu vou poder entrar na Ilha de Sant’Ana,
pois antes, a orquestra não tocava na Ilha. É uma coisa tão simples, mas vai significar
tanto para o meu bloco, pois nós vamos poder tocar um pedaço na Ilha”, comentou
Magão.
Bonecos e burrinhas
Sobre a confecção de bonecos
gigantes e as tradicionais burrinhas, Magão confirmou que o Ala Ursa está com uma
estrutura melhor e ressalta que teve motivação para iniciar o trabalho cedo, para
sair no carnaval 2013.
Saiba mais sobre o Bloco do Magão com o
trabalho de pesquisa enviado ao Jornal Correio do Seridó por David Fernandes
Barros – Aluno graduando do curso de História da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – Centro de Ensino Superior do Seridó
Em 1990, um grupo de amigos decidiu se reunir e criar
um bloco, tendo como dirigente e principal idealizador Ronaldo Batista de
Sales, o popularmente conhecido “Magão”.
O bloco “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” surge então com
a finalidade de chamar a atenção da sociedade para o Poço de Sant’Ana lugar
místico de várias histórias e lendas da cidade, que sofria com o esquecimento e
com a poluição e o resgate do carnaval de rua caicoense que estava morrendo,
além de tentar encontrar “uma forma de sustentabilidade para manter a família”
segundo “Magão”.
Em seu início, o bloco era formado por pessoas
totalmente discriminadas pela sociedade, por terem problemas com o álcool e
drogas. Como um carpinteiro (Magão) e um bando de drogados queriam resgatar o
carnaval de rua de Caicó e o Poço Místico da cidade?
O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” vai se inspirar nos
seus antecessores, mantendo todos os elementos e também inovando. Embora não
tenham recebido ajuda dos blocos existentes, como o “Ala Ursa da Paraíba” que
não compartilharam de seus conhecimentos carnavalescos.
O “Magão” e seus amigos, mesmo sem o conhecimento
necessário começaram a confeccionar as próprias fantasias, e inovaram com os
bonecos gigantes de papel machê, inéditos no carnaval caicoense. Segundo o
Magão, “embora houvesse poucas pessoas nos arrastões, os bonecos davam uma
outra dimensão ao bloco, dando a impressão de que haviam mais pessoas”.
O bloco se organizava, de acordo, com a
disponibilidade dos participantes, que se trajavam de “burrinhas de padre” e
papangus. Também tinha o urso e os grandes bonecos que chamavam a atenção do
público por onde passavam. No começo não havia horário certo para o desfile do
bloco, que poderia ser de manha, tarde, noite e até de madrugada durante os
dias de carnaval. Muitas vezes o bloco foi tirado das ruas e oprimido pela
polícia local, sendo impedido de realizar os arrastões.
Mesmo enfrentando o preconceito e o desdenho da
sociedade, o bloco continuou nas ruas conseguindo aglomerar mais pessoas a cada
ano e ganhando notoriedade na cidade. Em 1993 despertaram o interesse dos
comerciantes da cidade, que resolveram apoiar o bloco em troca de estamparem
propagandas de suas lojas nos bonecos gigantes. Com o pequeno crescimento foi
implantada uma orquestra que contava apenas com três músicos, os quais criaram
o hino do bloco. Com o despertar das pessoas para a festividade, o bloco ano
após ano foi ganhando novas dimensões e crescendo cada vez mais.
Desde então, o bloco não parou mais de crescer, e
passou a ganhar vários setores da sociedade, conseguindo democratizar aos
poucos o carnaval caicoense e a quebrar o preconceito existente desde o início
do século XX. O “Ala Ursa” possibilitou a descaracterização dos antigos
carnavais caicoenses marcados pela imensa estratificação social e o puro
preconceito racial e social. No final dos anos 90, o bloco começou a abrir o
carnaval, e se tornou o marco e o referencial das festividades carnavalescas de
Caicó, arrastando multidões por toda cidade.
O povo caicoense e de todo o Seridó têm como
características peculiares, a alegria, a hospitalidade, segurança, ótima
gastronomia, e principalmente em relação a festividades, um caráter festivo
disseminado em toda a sociedade. O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” conseguiu
passar para a sociedade e os foliões de todas as partes do Brasil que o seguem,
a essência do povo caicoense e seridoense, a alegria e a extroversão.
Construindo assim uma identidade e um carnaval próprio encontrado somente aqui.
Com a transmissão e disseminação da ideia de diversão, o bloco criou um
carnaval sem violência onde a ordem é brincar, e todos os que participam, estão
ali só pela alegria que o carnaval proporciona.
Além da disseminação da ideia simples e pura da
brincadeira e diversão. O “Bloco do Magão” tem outros pontos que o diferem dos
demais blocos e que a aliada a genialidade de seu dirigente, conquistam e
contagiam toda a massa. Ao quais tentarei enumerá-los a seguir.
O bloco reviveu as antigas marchinhas de carnavais,
que são tocadas em forma de frevo frenético e cantadas de forma praticamente
gritada. Aliando esses dois elementos a uma forma peculiar de interpretar as
antigas marchinhas, o bloco desenvolveu dentro da construção de sua identidade,
uma forma ímpar de animação carnavalesca, onde a orquestra desenvolve um ritmo
frenético que sincronizado com a música, contagia toda a massa não deixando
ninguém parado.
Outro ponto e talvez o maior diferencial do bloco, é
que desde a sua fundação, a população sempre esteve em contato direto com todos
os elementos do bloco, não havendo limites para participação da população,
possibilitando uma liberdade e interação das pessoas, possibilitando assim um
dos objetivos do carnaval de rua. Fazendo assim com que, todos os foliões sejam
o bloco e o bloco seja todos. Fazendo desaparecer as classes sociais, as etnias
e as diferenças, promovendo a igualdade democrática durante os arrastões pelas
ruas da cidade. Objetivo pelo qual o bloco foi criado a décadas, nos anos 30.
A divulgação do “Bloco do Magão” é outro ponto a ser
elencado. Tornou-se prática comum dos caicoenses, apresentarem e introduzirem
os filhos, ou seja, as novas gerações nos festejos carnavalescos através do
“Ala Ursa”, fazendo com que a tradição do carnaval de rua seja transmitida de
geração em geração.
Dessa forma a tradição do carnaval de rua do “Ala Ursa”
é mantida pelos jovens, que por sua vez, divulgam os festejos do bloco
carnavalesco e a cidade, por todas as partes do país, quando saem de sua
cidade, na maioria dos casos para estudar, através do “boca a boca”, incitando
e atraindo amigos e conhecidos, que ao conhecer a cidade e o festejo, também
passam a propagar o carnaval caicoense. Fazendo dessa forma, a propaganda das
festividades carnavalescas e da cidade, que ganharam proporções regionais, e
hoje nacionais. Segundo o “Magão”, “os jovens universitários, foram os grandes
responsáveis ou os maiores contribuintes, para a repercussão do ‘Bloco do
Magão’, no cenário regional e nacional”
Pontos importantes também a serem destacados, é o
imenso respeito e popularidade do carnavalesco “Magão”, que o possibilita
administrar eventuais problemas e desafios, com apoio de toda sociedade, além
de conseguir manter o objetivo principal do bloco que é promover a alegria e a
igualdade das pessoas.
Entre os desafios vencidos pelo bloco, foi
padronização da hora da saída do bloco, que foi de fundamental importância para
o sucesso do bloco, que enfrentou muitos problemas no início por falta de
padrão nos horários de saída. Passando a população a se adaptar ao bloco ao
invés de o bloco se adaptar a população.
Aliando-se a isso também se deve o
eficiente trabalho conjunto das polícias civil e militar e o corpo de
bombeiros, que com o contingente de cerca de duzentos homens, mantém a ordem e
segurança do carnaval caicoense, em meio a cerca de noventa mil foliões nas
ruas, mantendo assim uma das marcas registrada de nossa cidade.
O que antes foi
uma relação de preconceito e opressão, hoje é uma relação de colaboração e
união em prol da segurança e manutenção da ordem, além da diversão dos foliões.
Com todos esses atributos únicos, o “Ala Ursa” de
Caicó construiu e adquiriu uma identidade própria, não encontrada em nenhuma
outra parte do mundo. Com todo esse sucesso veio a responsabilidade. O que
antes era uma brincadeira de amigos se tornou exemplo e referencial para todo o
país.
Hoje o “O Bloco do Magão” segundo o próprio dirigente, “não é mais de
Caicó, nem do Seridó, mas de todo o Estado”. O bloco que no princípio arrastava
algumas dezenas de pessoas, hoje arrasta uma multidão em torno de noventa mil
pessoas por dia.
O “Bloco do Poço de Sant’Ana” que veio de baixo sofreu
com o preconceito e a descriminação, hoje é abraçado por toda a sociedade e
inclusive pela elite, que antes o olhavam com desprezo.
Mesmo assim ainda há um
enorme descaso do Poder Público Local e Estadual, que não se mobiliza para
melhoria da infra-estrutura, que já não é a ideal para os parâmetros atuais da
festividade, e que não oferece nem mesmo o mínimo da infra-estrutura
necessária, como banheiros químicos em alguns pontos chaves da cidade e do
percurso do bloco.
E é com peculiaridades, como um mudo que toca e um
padre que canta na orquestra, que o “Bloco do Magão” se difere dos demais,
conquistando e contagiando o público por onde passa, arrastando multidões ao
som de seu hino:
Hoje eu vou pular
Hoje eu vou brincar
Só vou parar quando chegar
A Quarta – Feira
O Ala Ursa
Eu vou acompanhar
Eu só vou parar
Quando chegar a Quarta – Feira
Tem bonecos para a turma agitar
Tem as burrinhas pra crianças se alegrar
Eu quero ver toda massa
Agitando
Quero ver povão pulando
Quero ver tu balançar.
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